quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O Nevoeiro

Esqueça Fim dos Tempos e sua aura de mistério abobalhada e inconsistentemente vazia. Esqueça Guerra dos Mundos e sua paranóia sentimentalista carregada de efeitos visuais chamativos e de roteiro piegas e fajuto. O Nevoeiro (The Mist), novo trabalho do elogiadíssimo roteirista roteirista e diretor Frank Darabont (responsável pelos indicados ao Oscar Um Sonho de Liberdade e À Espera de Um Milagre), um expert em adaptar obras literárias do consagrado autor norte-americano Stephen King para o cinema, apresenta um filme de horror impecável, que é em si uma metáfora para as diversas peculiaridades do íntimo do ser humano.

Ambientado numa pequena cidade interiorana dos Estados Unidos, o filme já começa de maneira emblemática, já que sem explicação nenhuma um estranho nevoeiro começa a se espalhar pela cidade. O artista local David Drayton (interpretado com esmero pelo até agora irregular Thomas Jane, de O Justiceiro) vai com o filho de 8 anos a um supermercado quando, de repente, o tal nevoeiro toma conta de todo o espaço visto ao alcance dos olhos e, com a chegada de um senhor ensangüentado que afirma que existe algo do lado de fora que o atacou o clima de dúvida se inicia entre David e todos que estão no supermercado no momento. Não demora para descobrirem que criaturas inimagináveis pela população estão à solta e, dessa forma, o caos é instalado no local.

Apesar de deter uma temática comum à diversos filmes-catástrofe (como os já citados acima) o que distingue e coloca O Nevoeiro num patamar acima dos outros é a relação quase umbilical que o filme traça entre o iminente horror vivido pela população e o aflorar de ações nada ortodoxas por conseqüência. Ou seja, o filme faz um impressionante estudo acerca dos pensamentos e ações mais íntimos da humanidade, onde a insanidade, o individualismo, o egoísmo e a intolerância ultrapassam as barreiras do bem-comum e transforma o todo a sua volta.

Impossível não destacar a personagem de Marcia Gay Harden (vencedora do Oscar por Sobre Meninos e Lobos), fervorosa e fanática religiosa, que atribui toda a tragédia como conseqüência direta dos atos dos homens perante o mundo, que aquilo seria um castigo divino e que caberia a ela separar os ‘cordeiros dos lobos’. À partir deste gancho uma característica inatamente humana é analisada, a da transitoriedade e dinamicidade de ideais do homem, principalmente nos dias atuais, tão impregnado pela busca do efêmero e simples, quando a personagem, tida como louca no início do filme, vai ganhando espaço devido as suas ‘predições’ catastróficas, como um messias, acerca do futuro de todos os presentes no local. Por fim, é inevitável que ela traria consigo grande parte dos presentes a serem seus seguidores, pois, quando pressionados e em dúvida, os seres humanos geralmente se agarram a fé cega, carregada de medo e de dúvidas.

Contudo não é só a intransigência derivada da centralização e do radicalismo tanto religioso quanto político que o filme aponta, mas também discute acerca da pequenez uma humana em contraste com a grandeza do universo, a paranóia vivida por grande parte da população quando passa por momentos de crise, o subjetivismo advindo do medo e, por fim, os conseqüentes efeitos que tais sentimentos e ações exercem sobre o homem e seu semelhante.

São estas e outras as diferenças marcantes entre O Nevoeiro e as demais produções do gênero, visto que, ao contrário destas, o filme abraça de forma brilhante e concisa a carga de tensão, medo e perigo inatas dos filmes de horror com discussões contundentes acerca do papel do homem neste ambiente e as diversas possibilidades de pensamentos existentes. Tudo isso sem apelar para os efeitos-digitais mirabolantes (que o filme possui, porém relega a segundo plano), mas sim utilizar temas humanos para discutir sobre o ser-humano, metaforicamente trabalhado pelo horror causado pelo desconhecido e pelo medo. Em suma, duas palavras: assustadoramente brilhante (trevas e luz, medo e esperança, quer um sentido mais humano do que a dicotomia?)!

NOTA: 9.

Ficha-técnica:
Título Original: The Mist
Gênero: Terror
Tempo de Duração: 126 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2007
Site Oficial: www.themist-movie.com
Estúdio: Dimension Films / Darkwoods Productions
Distribuição: Dimension Films / MGM / The Weinstein Company / Paris Filmes
Direção:
Frank Darabont
Roteiro: Frank Darabont, baseado em livro de Stephen King
Produção: Liz Glotzer e Frank Darabont
Música: Mark Isham
Fotografia: Ronn Schmidt
Desenho de Produção: Gregory Melton
Direção de Arte: Alex Hajdu
Figurino: Giovanna Ottobre-Melton
Edição: Hunter M. Via
Efeitos Especiais: LOOK! Effects / CaféFX / K.N.B. effects Group / Digital Dream / RotoFactory / HimAnl Productions

Elenco: Thomas Jane, Marcia Gay Harden, Andre Braugher, Toby Jones e Laurie Holden.

Trailer:

Awake – A Vida por Um Fio

Um tema recorrente da medicina moderna é até quando os procedimentos anestésicos realmente exercem total efetividade em sua aplicação, ou seja, realmente é um procedimento 100% seguro ou seria passível de falhas?

Pois é este questionamento que o filme Awake – A Vida por Um Fio levanta como pano de fundo de seu enredo, que acompanha a trajetória de um jovem executivo (Hayden Christensen, de Jumper) que necessita rapidamente de um transplante de coração. Porém, durante a cirurgia, ele se vê cercado de uma sensação que não poderia jamais imaginar: apesar de teoricamente anestesiado, ele consegue sentir todas as interferências médicas em seu corpo, como o corte junto à seu peito, porém não pode expressar a dor de maneira alguma, visto que o fenômeno causado pelo anestésico o impediu de demonstrar fisicamente qualquer reação. No entanto, no seu íntimo, a possibilidade de sentir e acompanhar o que acontece a sua volta traz mais do que a dor proveniente da incisão cirúrgica, mas também revelações são percebidas através dos diálogos dos médicos cirurgiões. Ou seja, apesar de sedado o paciente está totalmente consciente (awake) do que está acontecendo a sua volta e consigo mesmo.

Awake apresenta uma premissa bastante interessante e, de certa forma, inovadora a um gênero já tão batido, que é o suspense de cunho psicológico. Neste filme a idéia trabalhada, além do paradigma médico acerca do efeito da anestesia, é a relação egoísta do ser humano e a velha questão: até onde você iria para alcançar seus objetivos?

Com enxutos 84 minutos de projeção, o filme concentra de forma concisa sua mensagem e proporciona ao espectador uma verdadeira viagem ao íntimo do próprio ser. Diversos questionamentos são tratados no longa, no entanto a questão da ética humana encabeça o cabedal e com certeza abrirá algumas possibilidade de reflexão no espectador. No entanto, apesar de possuir uma mensagem de conteúdo substancial e reflexivo, não espere do longa um tratado mais apurado no âmbito psico-filosófico, pois esta não é a missão deste. A aposta de Awake é a de entretenimento com algo a mais. Ele traz à tona a possibilidade de serem levantados alguns questionamentos ao mesmo em que entretem o espectador com diversas seqüências de suspense e tensão.

Por fim, é válido citar que Awake é co-estrelado por Jessica Alba (a mulher-invisível em O Quarteto Fantástico) e Terrence Howard (Homem de Ferro), além de ser escrito e dirigido pelo estreante Joby Harold.

NOTA: 8.

Ficha-técnica:
Título Original: Awake
Gênero: Suspense
Tempo de Duração: 84 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2007
Site Oficial: www.awakethemovie.com
Estúdio: The Weinstein Company / GreeneStreet Films / Open City Films
Distribuição: The Weinstein Company / MGM / PlayArte
Direção: Joby Harold
Roteiro: Joby Harold
Produção: Jason Kliot, John Penotti, Fisher Stevens e Joana Vicente
Música: Samuel Sim
Fotografia: Russell Carpenter
Desenho de Produção: Dina Goldman
Direção de Arte: Ben Barraud
Figurino: Cynthia Flynt
Edição: Craig McKay
Efeitos Especiais: & Company

Elenco: Hayden Christensen, Jessica Alba, Lena Oline e Christopher McDonald.

Trailer:

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

As Duas Faces da Lei


Um dos projetos mais eperados dos últimos anos, o filme As Duas Faces da Lei (Righteous Kill, no original) é o primeiro longa a reunir um dos dois maiores atores do cinema moderno, contracenando lado-a-lado como parceiros pela primeira vez. Estou falando dos antológicos Robert de Niro (Touro Indomável) e Al Pacino (Perfume de Mulher). No entanto, apesar de ter tais nomes encabeçando o elenco, o filme nada mais é do que um trabalho até certo ponto fraco, inferior à diversos títulos do gênero lançados nos últimos anos.

A premissa do longa é a relação entre dois policiais veteranos (vividos por De Niro e Pacino) que detêm a missão de descobrir a identidade de um assassino serial, que mata pessoas sem uma seqüencia lógica, como é de praxe para a 'classe', no entanto as vítimas do deste têm alguma ligação com um dos tiras.

Não é válido prolongar demais a explanação, pois este pequeno resumo percebe-se que As Duas Faces da Lei tem um script perfeito de Super-Cine (pra quem não sabe, é a famosa sessão de cinema aos sábados à noite na Rede Globo que privilegia os thrillers), visto que além de não apresentar nenhuma novidade (nem mesmo estética, fato tão comum ao gênero) não possui um roteiro consistente (o filme entrega o possível mistério de cara ao espectador), muito menos uma direção segura (que ficou a cargo de Jon Avnet, conhecido pelo açucarado Tomates Verdes e Fritos). Talvez a única coisa válida do longa sejam as interpretações da dupla central, que, apesar de não serem magistrais (já que também não mostram nada de novo), conseguem transmitir empatia ao público, principalmente pelo seu background, não tanto pelo trabalho no filme em si. Ou seja, o encontro 'inédito' (eles já participaram juntos nos longas O Poderoso Chefão - Parte 2 e Fogo Contra Fogo) vale mais do que suas performances.

Finalizando, As Duas Faces da Lei não é um produto ruim. No entanto, está longe de ser um exemplar de referência para o gênero, já que, além de apresentar mais do mesmo, ainda peca na maior virtude que um thriller carrega: o mistério que deve ser revelado gradativamente ao espectador e o clima de suspense que mantém este na espectativa, aspectos que o filme, infelizmente, não possui. Mas tem Robert de Niro e Al Pacino, sendo assim, por eles merece ser visto, mas não espere grande coisa. É triste, mas é verdade.

NOTA: 6.

Ficha Técnica:
Título Original: Righteous Kill
Gênero: Policial/Thriller
Tempo de Duração:
Ano de Lançamento (EUA): 2008
Site Oficial: www.righteouskill-themovie.com
Estúdio: Millennium Films / InVenture Entertainment / Nu Image Films / Emmett/Furla Films
Distribuição: Lions Gate Films / California Filmes
Direção: Jon Avnet
Roteiro: Russell Gerwitz
Produção: Jon Avnet, Randall Emmett, George Furla, Lati Grobman, Avi Lerner, Alexandra Milchan, Daniel M. Rosenberg
Música: Ed Shearmur
Fotografia: Denis Lenoir
Desenho de Produção: Tracey Gallacher
Direção de Arte: Christina Ann Wilson
Figurino: Debra McGuire
Edição: Paul Hirsch


Elenco: Robert De Niro, Al Pacino, Carla Gugino, John Leguizamo, Donnie Wahlberg e Curtis "50 Cent" Jackson.

Quebrando a banca


Divertido. Esse adjetivo define perfeitamente Quebrando a Banca (21, no original), mais um filme que aborda o jogo de cartas como personagem principal e que concentra toda a sua trama no velho jogo de gato e rato entre os jogadores e o 'onipresente' segurança dos cassinos. No entanto, este longa difere um pouco dos demais exemplares do gênero ao explorar as potencialidades da contagem de cartas (artifício utilizado para vencer os jogos) através de jovens estudantes de inteligência acima da média, que utilizam a matemática básica (básica mesmo?) como ferramenta maior para burlarem as regras do jogo.

O filme mostra a mudança pela qual Ben Campbell (Jim Sturgess, de Across The Universe) passa após ser convidado por um professor, vivido por Kevin Spacey, de Beleza Americana, a integrar-se a um grupo de jovens gênios que praticam golpes em cassinos, utilizando o 'fantástico' sistema da contagem de cartas. Qual seria a motivação de Campbell? Conseguir pagar a Universidade (Harvard, por sinal), visto que, devido às suas precárias condições financeiras, este seria seu único entrave para cursar medicina, já que suas notas são quase perfeitas e a concorrência para a única bolsa de estudos disponível é notavelmente acirrada.

Pois bem, a partir daí a história toma o rumo de praxe. Glória e dinheiro fácil, glamour e romance, desentendimentos e inveja, ego inflado e desleixo, responsabilidade e vitória. Ou seja, a velha cartilha que somente a indústria cinematográfica hollywoodiana poderia construir com o mesmo nível de repetição e perfeição. O diretor Robert Luketic (Legalmente Loira) não arrisca na forma de filmar e aposta no bê-a-bá do gênero e na edição linear, utilizando alguns recursos de truncagem de câmera (slow motion característicos do cinema moderno) e narração em off do protagonista.

Por fim, apesar de ser um produto bastante atraente e prazeroso de ser assistido, no fundo Quebrando a Banca é mais um filme sem conteúdo mais elaborado, sendo um trabalho efêmero, porém condizente com sua proposta: entreter o espectador por duas horas de projeção. Portanto, como dito na abertura dessa resenha: divertido!

Quebrando a Banca é co-estrelado pela bela e talentosa Kate Bosworth (Superman - O Retorno) e pelo veterano Laurence Fishburne (trilogia Matrix). Vale destacar também que o longa foi produzido por Spacey e por Brett Ratner (produtor da série Prison Break e diretor de filmes como A Hora do Rush e X-Men - O Confronto Final).

Ficha Técnica:
Título Original: 21
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 123 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2008
Site Oficial: www.quebrandoabanca.com.br
Estúdio: Relativity Media / Trigger Street Productions / Michael De Luca Productions
Distribuição: Columbia Pictures
Direção: Robert Luketic
Roteiro: Peter Steinfeld e Allan Loeb, baseado em livro de Ben Mezrich
Produção: Dana Brunetti, Michael De Luca e Kevin Spacey
Música: David Sardy
Fotografia: Russell Carpenter
Desenho de Produção: Missy Stewart
Direção de Arte: James F. Truesdale
Figurino: Luca Mosca
Edição: Elliot Graham

NOTA: 7,5.

Elenco: Jim Sturgess, Kate Bosworth, Kevin Spacey, Laurence Fishburne, Aaron Yoo, Liza Lapira e Jacob Pitts.


domingo, 12 de outubro de 2008

Ressaca de Amor

Confesso que minha curiosidade por este filme não veio particularmente pelo filme em si. Como assim, você com certeteza está se perguntando. Pois bem, a verdade é que, desde que conferi "O Virgem de 40 Anos" virei fã do trabalho do produtor, roteirista e diretor Judd Apatow. Sendo assim, após esta comédia surreal que faz ponte com diversos aspectos da cultura pop moderna, acompanhei todos (ou quase todos) os lançamentos que traziam a assinatura de Apattow, seja como diretor, seja como produtor ou roteirista. Foi assim com Ligeiramente Grávidos e Superbad e, apesar de ter lido alguns reviews e críticas acerca de Ressaca de Amor, só tive aflorada a curiosidade para assistí-lo quando o vi o DVD que estampava: "Do mesmo produtor de O Virgem de 40 Anos". Pois bem, decidi me arriscar através desse pequeno detalhe. Valeu a pena?

Com certeza valeu. O longa comandado e roteirizado por Jason Segel é o contraponto perfeito de diversos longas que abordam rompimentos de relacionamentos. Geralmente retratam a perda e a dor do universo feminino, isto não ocorre em Ressaca de Amor (Forgetting Sarah Marshall), que parte do ponto de vista do homem abandonado e como é difícil para um ser apaixonado seguir em frente, principalmente quando o contato com ex é inevitável.

Com muitas referências à cultura pop (como todos os filmes que têm a assinatura de Apatow), indo de O Senhor dos Anéis à Drácula, o filme ganha também devido aos ótimos personagens coadjuvantes, criaturas que, apesar de caricaturais e estereotipadas, acrescentam de forma competente o universo criado por Segel e, como não devia deixar de ser, divertem bastante.

Um pequeno grande filme que mostra o quão estúpidos nós (homens) somos quando não conseguimos seguir em frente após o término de uma relação e que, apesar das inevitáveis perdas, deveríamos separar vida pessoal dos deveres e responsabilidades. Será que isso é possível? Sinceramente o filme não está nem aí para isto, o que importa mesmo é estender um ombro amigo para todos aqueles que já passaram por momentos semelhantes (mas nunca iguais, pois seriam impossíveis, não acha? Não?).

Alugue, compre ou pegue emprestado, com certeza você se divertirá bastante, seja com as mensagens subliminares ou expositivas do universo sentimental masculino ou com as tiradas nada discretas e bastante ofensivas da equipe criativa encabeçada por Apatow.

Ah, vale destacar a infame opera rock do Drácula (apaixonado também, como não poderia deixar de ser). Infame...

NOTA: 8,5.

Ficha Técnica
Título original: Forgetting Sarah Marshall
Gênero: Comédia Romântica
Duração: 110 min
Ano de lançamento (EUA): 2008
Site oficial: www.forgettingsarahmarshall.com/

Estúdio: Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Direção: Nicholas Stoller
Roteiro: Jason Segel
Produção: Judd Apatow e Shauna Robertson

Elenco: Jason Segel, Kristen Bell, Mila Kunis, Russel Brand, Bill Hader, Johan Hill e Paul Rudd.


Trailer: