Esqueça Fim dos Tempos e sua aura de mistério abobalhada e inconsistentemente vazia. Esqueça Guerra dos Mundos e sua paranóia sentimentalista carregada de efeitos visuais chamativos e de roteiro piegas e fajuto. O Nevoeiro (The Mist), novo trabalho do elogiadíssimo roteirista roteirista e diretor Frank Darabont (responsável pelos indicados ao Oscar Um Sonho de Liberdade e À Espera de Um Milagre), um expert em adaptar obras literárias do consagrado autor norte-americano Stephen King para o cinema, apresenta um filme de horror impecável, que é em si uma metáfora para as diversas peculiaridades do íntimo do ser humano.
Ambientado numa pequena cidade interiorana dos Estados Unidos, o filme já começa de maneira emblemática, já que sem explicação nenhuma um estranho nevoeiro começa a se espalhar pela cidade. O artista local David Drayton (interpretado com esmero pelo até agora irregular Thomas Jane, de O Justiceiro) vai com o filho de 8 anos a um supermercado quando, de repente, o tal nevoeiro toma conta de todo o espaço visto ao alcance dos olhos e, com a chegada de um senhor ensangüentado que afirma que existe algo do lado de fora que o atacou o clima de dúvida se inicia entre David e todos que estão no supermercado no momento. Não demora para descobrirem que criaturas inimagináveis pela população estão à solta e, dessa forma, o caos é instalado no local.
Apesar de deter uma temática comum à diversos filmes-catástrofe (como os já citados acima) o que distingue e coloca O Nevoeiro num patamar acima dos outros é a relação quase umbilical que o filme traça entre o iminente horror vivido pela população e o aflorar de ações nada ortodoxas por conseqüência. Ou seja, o filme faz um impressionante estudo acerca dos pensamentos e ações mais íntimos da humanidade, onde a insanidade, o individualismo, o egoísmo e a intolerância ultrapassam as barreiras do bem-comum e transforma o todo a sua volta.
Impossível não destacar a personagem de Marcia Gay Harden (vencedora do Oscar por Sobre Meninos e Lobos), fervorosa e fanática religiosa, que atribui toda a tragédia como conseqüência direta dos atos dos homens perante o mundo, que aquilo seria um castigo divino e que caberia a ela separar os ‘cordeiros dos lobos’. À partir deste gancho uma característica inatamente humana é analisada, a da transitoriedade e dinamicidade de ideais do homem, principalmente nos dias atuais, tão impregnado pela busca do efêmero e simples, quando a personagem, tida como louca no início do filme, vai ganhando espaço devido as suas ‘predições’ catastróficas, como um messias, acerca do futuro de todos os presentes no local. Por fim, é inevitável que ela traria consigo grande parte dos presentes a serem seus seguidores, pois, quando pressionados e em dúvida, os seres humanos geralmente se agarram a fé cega, carregada de medo e de dúvidas.
Contudo não é só a intransigência derivada da centralização e do radicalismo tanto religioso quanto político que o filme aponta, mas também discute acerca da pequenez uma humana em contraste com a grandeza do universo, a paranóia vivida por grande parte da população quando passa por momentos de crise, o subjetivismo advindo do medo e, por fim, os conseqüentes efeitos que tais sentimentos e ações exercem sobre o homem e seu semelhante.
São estas e outras as diferenças marcantes entre O Nevoeiro e as demais produções do gênero, visto que, ao contrário destas, o filme abraça de forma brilhante e concisa a carga de tensão, medo e perigo inatas dos filmes de horror com discussões contundentes acerca do papel do homem neste ambiente e as diversas possibilidades de pensamentos existentes. Tudo isso sem apelar para os efeitos-digitais mirabolantes (que o filme possui, porém relega a segundo plano), mas sim utilizar temas humanos para discutir sobre o ser-humano, metaforicamente trabalhado pelo horror causado pelo desconhecido e pelo medo. Em suma, duas palavras: assustadoramente brilhante (trevas e luz, medo e esperança, quer um sentido mais humano do que a dicotomia?)!
NOTA: 9.
Ficha-técnica:
Título Original: The Mist
Gênero: Terror
Tempo de Duração: 126 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2007
Site Oficial: www.themist-movie.com
Estúdio: Dimension Films / Darkwoods Productions
Distribuição: Dimension Films / MGM / The Weinstein Company / Paris Filmes
Direção: Frank Darabont
Roteiro: Frank Darabont, baseado em livro de Stephen King
Produção: Liz Glotzer e Frank Darabont
Música: Mark Isham
Fotografia: Ronn Schmidt
Desenho de Produção: Gregory Melton
Direção de Arte: Alex Hajdu
Figurino: Giovanna Ottobre-Melton
Edição: Hunter M. Via
Efeitos Especiais: LOOK! Effects / CaféFX / K.N.B. effects Group / Digital Dream / RotoFactory / HimAnl Productions
Elenco: Thomas Jane, Marcia Gay Harden, Andre Braugher, Toby Jones e Laurie Holden.
Trailer:
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
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3 comentários:
Muito bom o filme!!
Fala bem da força que a religião ou, melhor dizendo, o fanatismo religioso tem sobre as pessoas. O filme consegue reunir um suspense/terror e manter um assunto tão complicado em meio ao desespero das pessoas (hehehe). Muito bom mesmo.
Os efeitos também foram bons.
E o final... melhor ainda!
Vou contrariar o blogueiro e dar nota 10 ao filme. Raramente vemos uma obra de Stephen King se dar bem nos cinemas, particularmente salvo apenas Cemitério Maldito [para quem não assistiu, serve como indicação], Carie a estranha, Às vezes eles votlam e O Nevoeiro.
Voltando ao filme em questão... fiquei boquiaberto com o desenrolar da história e especialmente com o final.
Ótima resenha, Téo.
O melhor final de filme do MUNDO! Huahuahua...
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