terça-feira, 24 de março de 2009

Watchmen - O Filme

Adaptação da graphic novel (que ainda não li) de Alan Moore e David Gibbons, considerada pela crítica e por fãs como a Bíblia das histórias em quadrinhos, além de estar, de acordo com a lista publicada pelo Times, entre os 100 maiores romances do século XX, Watchmen é um filme tenso, contundente e, sobretudo, atraente. Dotado de um visual bastante estilizado, com truncagens e ângulos que, misturadas às inserções gráficas e propositalmente sintéticas, corroborando por conseguinte o estilo "visceral" à lá video-game/video-clipe de filmagem e edição do diretor norte-americano Zack Snyder (Madrugada dos Mortos e 300), Watchmen aborda de maneira oposta o mundo dos super-heróis (tanto o apresentado nas HQ's, quanto nas recentes adaptações cinematográficas), contextualizando estes numa época de constante enfervecência política/bélica sem igual (não que a atualidade não se encaixe nisso): o auge da guerra fria. Ou seja, o pano de fundo da obra é o conflito entre os EUA e a URSS e, consequentemente, o medo de uma guerra nuclear e a provável extinção da vida (desconsiderando as baratas, é claro) no planeta.

Afora o debate geopolítico, o feito que mais chama a atenção em Watchmen é a exposição, de forma explícita, dos dilemas inerentes à (ou às) natureza(s) humana(s) que, principalmente nos momentos de crise, aflora de maneira desordenada e ambígua, podendo quebrar até mesmo suas leis, seus códigos de conduta ético-morais, por fim, sua definição de humanidade. O ponto de conflito demonstrado durante o filme é carregado de sentimentos densos, que podem incomodar alguns espectadores (o filme foi classificado com censura máxima, apenas maiores de 18 anos podem assistí-lo).

Não vou me deter com relação a trama (que, em resumo, acompanha a investigação do assassinato de um herói veterano que envolve diversos outros - que não estão na ativa, devido à uma lei assinada pelo presidente dos EUA Richard Nixon, que os proibi de exercerem suas "funções" - num leque de acontecimentos que envolve diversos personagens, que são trabalhados a partir de suas fragilidades e inseguranças), visto que o enredo da obra é tão interessante e imprescindível (também complexo), que revelar um resumo tirará, de certa forma, dela o seu brilho. Brilho este que pode ser desviado pela construção do próprio filme, carregado de pirotecnia e efeitos visuais altamente dinâmicos (com certeza são de encher os olhos), que talvez a mensagem (o contexto da trama - o objetivo da obra existir) do filme possa ser relegada a segundo plano pelo espectador (principalmente o não familiarizado com a obra, com certeza a maioria do público), este possivelmente ficará hipnotizado pelo show de cores, pela plasticidade das imagens, pela granulação nas cenas de violência (que não são poucas, mas necessárias para o contexto do filme) estilizada, por fim, pelos excessos estéticos. Talvez a discussão ao qual a obra discorre não seja absorvida com tanto ímpeto mundareu de cores e sons.

Ressalto que não vejo como negativa essa valorização do filme as intervenções exageradamente gráficas, já que o seu conteúdo textual não deixa de ser formidável (apesar de resumida em comparação à obra, apesar das mais de 2 horas e meia de projeção), porém, talvez se Snyder tivesse abdicado de sua marca registrada (até então) e houvesse formatado Watchmen (no que se refere a montagem e composição visual, mais especificamente aos efeitos visuais) de uma forma mais crua, menos estilizada, ou seja, mais próxima do tom de "realidade" empregado no enredo oriundo da graphic novel (apesar de ser uma história de "super-herois") e, menos parecido ao de um video-clipe ou mesmo dos já conhecidos filmes de heróis (se a HQ descontriu o próprio universo das HQ's, por que o longa não desconstruiu os filmes de super-heróis? - no que tange ao visual), talvez a consistência da obra fosse exponencialmente aumentada e a compreensão da natureza desta pelos espectadores total. Ou não.

No mais, um ótimo deleite visual, ótimo enredo, execelente fomento à discussão, brilhante (e imperfeito) filme e por que não, uma grande obra. Contudo, polêmica a vista ... ou não?

NOTA: 8,5.

Ficha Técnica
Título Original: Watchmen
Gênero: Ficção Científica
Tempo de Duração: 163 minutos
Ano de Lançamento (EUA / Inglaterra / Canadá): 2009
Site Oficial: www.watchmenofilme.com.br
Estúdio: Warner Bros. Pictures / Paramount Pictures / DC Comics / Lawrence Gordon Productions / Legenday Pictures
Distribuição: Paramount Pictures / Warner Bros. Pictures / UIP
Direção: Zack Snyder
Roteiro: Alex Tse e David Hayter, baseado em graphic novel de Alan Moore e Dave Gibbons
Produção: Lawrence Gordon, Lloyd Levin e Deborah Snyder
Música: Tyler Bates
Fotografia: Larry Fong
Desenho de Produção: Alex McDowell
Direção de Arte: François Audouy, Helen Jarvis e James Steuart
Figurino: Michael Wilkinson
Edição: William Hoy
Efeitos Especiais: CIS Hollywood / Intelligent Creatures / Rainmaker / Proof / Drac Studios / Lidar Services / Gentle Giant Studios / Moving Picture Company / Quantum Creation FX / Rising Sun Pictures / Sony Pictures Imageworks / Svengali Visual Effects.

Elenco: Malin Akerman, Billy Crudup, Matthew Goode, Jackie Earle Haley, Jeffrey Dean Morgan, Patrick Wilson e Carla Gugino.


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