Fazer dois filmes com um mesmo tema é complicado. Porém, fazê-los com duas visões diferentes, abordando duas nacionalidades distintas, mas que se complementam é muito mais complicado. No entanto, essa missão foi liderada por ninguém menos que
Clint Eastwood (
Menina de Ouro), aliado à
Steven Spielberg, como prodtudor-executivo. Eles decidem transportar para o cinema a famosa batalha de Iwo Jima, ocorrida nos momentos finais da II Guerra Mundial. Pois é desta iniciativa que são moldados os filmes "
A Conquista da Honra", que mostra o lado americano do combate, e "
Cartas de Iwo Jima", sob o ângulo japonês.
A Conquista da Honra, ao contrário do que se pode pensar, não é um filme de guerra, mas sim uma alegoria dramática que acompanha a vida de três combatentes norte-americanos (vividos por
Ryan Phillipe,
Jesse Bradford e
Adam Beach) que são utilizados como veículos de propaganda pelo governo dos EUA, com o objetivo de alavancar recursos para guerra travado, visto que a situação financeira do país não se encontrava em boas condições. Transformados em heróis de guerra da noite para o dia, o filme discute acerca da fabricação de heróis (tão recorrente da máquina de persuasão americana) e da fragilidade da qual os soldados passam (tanto psicológica, quanto social) quando voltam dos campos de batalha.
Um outro ponto de destaque do filme, além da mitológica fabricação de mitos, é a motivação adquirida pelos soldados. Ao contrário de que muitos longas do gênero mostram, não existe aqui um patriotismo cego por parte deles. É óbvio que os soldados estão no campo de batalha lutando pelo seu país, porém eles morrem não por ele, mas sim por seus amigos, como faz questão de frisar um dos personagens do longa.
O longa é muito bem construído por Eastwood, que utiliza os momentos de batalha (a maioria em flashbacks) apenas para ilustrar os traumas carregados pelos soldados, e não para construir uma alegoria de fogos e sangue, sem conteúdo algum. Mesmo com as batalhas não sendo o foco central do filme, a equipe técnica da produção se sobressai e mostra um maravilhoso apuro, principalmente a fotografia (a cargo de
Tom Stern), que utiliza um tom monocromático muito semelhante ao utilizado em "
O Resgate do Soldado Ryan" e na mini-série "
Band of Brothers" (curiosamente dirigida e produzida por Spielberg, respectivamente).
O segundo é
Cartas de Iwo Jima. Apresentando o olhar japonês da batalha, o filme tem um segmento de narrativa mais linear, mostrando desde a chegada dos soldados japoneses à ilha, até o momento do fatídico massacre perante as tropas norte-americanas. Mesmo sem ter uma montagem fragmentada como a de A Conquista da Honra, é devido a sua linearidade que se absorve mais rapidamente a história contada.
A trama do filme envolve o general Kuribayashi (o ótimo ator japonês
Ken Watanabe, de "
O Último Samurai) e sua ingrata missão de segurar poderio de fogo norte-americano ao máximo, mesmo possuindo um número substancialmente inferior de soldados ao do inimigo, deve defender a ilha de Iwo Jima, que é um ponto estratégico para ambos os países, com a própria vida, caso seja necessário.
O choque cultural é mostrado brilhantemente por Eastwood (com o auxílio do roteirista
Paul Haggis e de Spielberg), quando um soldado japonês "salva" a vida de um americano e, falando em inglês com ele, vangloreia-se falando da olimpíada da qual participara e sobre as pessoas que conhecera enquanto residia nos EUA, isso retratado em um tom totalmente nostálgico pelo ator. Também é mostrado o lado negro do americano (que sempre posa de herói), no momento em que alguns japoneses desarmados são fuzilados a sangue frio, mesmo estes já estando rendidos.
Discutir acerca do apuro técnico do filme é inviável. Por conter bem mais cenas de combate e planos abertos (tanto gerais, quanto em close) da ilha, ele transborda beleza no segmento técnico, sem desmerecer, é claro, seu cunho dramático. A trilha sonora marca muito bem a jornada dos soldados japoneses e a fotografia tem o mesmo tom monocromático de
A Conquista da Honra.
Muitos críticos consideraram
Cartas de Iwo Jima como superior a
A Conquista da Honra, no entanto prefiro ligeiramente o segundo. Não que ele seja "melhor" que Iwo Jima, mas devido a ousadia com o qual o tema central foi tratado (as conseqüencias da bandeira fincada no topo da ilha pelos soldados), o foco nas conseqüencias de atos ifundados e não nas batalhas em si.
Contudo, os dois longas se complementam de forma quase que mágica (tanto que para o lançamento em DVD também existe uma versão única dos dois, em box) e comprovam o talento do mais que veterano
Clint Eastwood apra narrar histórias ao mesmo tempo pertinentes, do ponto de vista social e de denúncia, quanto emocionantes também. A improvável aliança a
Steven Spielberg flui majestosamente.
Um ótimo projeto, que além de resgatar algumas polêmicas originalmente ocorridas em épocas negras da história americana, mostra a visão dos dois lados do
front, sem delimitar em momento algum quem é herói ou vilão, bom ou mal, por que no fim o que virá será apenas mortes e recordações, muitas vezes desconstruídas pela história.
NOTAS: A Conquista da Honra: 9,0 / Cartas de Iwo Jima: 8,5.Ficha Técnica (A Conquista da Honra):Título Original: Flags of Our Fathers
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 132 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2006
Site Oficial: www.aconquistadahonra.com.br
Estúdio: DreamWorks SKG / Warner Bros. / Malpaso Productions / Amblin Entertainment
Distribuição: DreamWorks Distribution LLC / Warner Bros. / Paramount Pictures
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: William Broyles Jr. e Paul Haggis, baseado em livro de Ron Powers e James Bradley
Produção: Clint Eastwood, Steven Spielberg e Robert Lorenz
Música: Clint Eastwood
Fotografia: Tom Stern
Desenho de Produção: Henry Bumstead
Direção de Arte: Adrian Gorton e Jack G. Taylor Jr.
Figurino: Deborah Hopper
Edição: Joel Cox
Elenco: Ryan Phillipe, Jesse Bradford, Adam Beach, John Benjamin Hickey, John Slattery, Barry Pepper, Jamie Bell.Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=eiOMtdneUVcFicha Técnica (Cartas de Iwo Jima):Título Original: Letters from Iwo Jima
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 140 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2006
Site Oficial:iwojimathemovie.warnerbros.com/lettersofiwojima
Estúdio: DreamWorks SKG / Warner Bros. Pictures / Malpaso Productions / Amblin Entertainment
Distribuição: Warner Bros. / Paramount Pictures
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Iris Yamashita, baseado em livro de Tadamichi Kuribayashi e em estória de Iris Yamashita e Paul Haggis
Produção: Clint Eastwood, Steven Spielberg e Robert Lorenz
Música: Kyle Eastwood e Michael Stevens
Fotografia: Tom Stern
Desenho de Produção: Henry Bumstead e James J. Murakami
Figurino: Deborah Hopper
Elenco: Ken Watanabe, Kazunari Ninomiya, Tsuyoshi Ihara, Ryo Kase, Shido Nakamura, Hiroshi Watanabe.Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=_fGgkDGF2Ts