- AVATAR, de James Cameron.

Com toda a certeza, eu, como espectador de cinema, como consumidor desta arte, não sentia tamanha imersão dentro de um universo que não fosse o meu, ou seja, completamente ficcional (tanto por ser cinema, quanto pela conceitualização da idéia), desde o final da trilogia "O Senhor dos Anéis" (aliás, talvez desde o remake de "Kink Kong", de 2005 - coincidentemente do realizador da trilogia do anel, Peter Jackson). Avatar, com toda a sua complexidade conceitual e, além disso, com o seu tratamento visual inacreditavelmente deslumbrante (infelizmente não tive a oportunidade de visualizar o longa através da tecnologia 3D - o filme foi construído pensando nesta plataforma -; com certeza a experiência seria exponencialmente amplificada) pode ser considerado como o ponto de partida (apesar alguns títulos o terem precedido) de uma nova dimensão na maneira de se conceber filmes. Fico aqui apenas vislumbrando como seria fascinante acompanhar Avatar numa sala de cinema I-Max com tecnologia 3D. É de ficar banbando...
Quanto ao enredo de Avatar, este não apresenta muitas novidades. A trama é até certo ponto simples, tanto em sua concepação narrativa, quanto em conteúdo e carrega uma paráfrase acerca da contínua exploração humana dos recursos naturais e pela natureza em geral (incluem-se aí a escravidão e/ou a exploração territorial, à semelhança das grandes navegações do século XV). Na verdade, a trama de Avatar nada mais é do que uma recontextualização da lenda de Pocahontas, anexada a conceitos modernos de sustentabilidade e preceitos espirituais, resultando assim num pensamento filosófico simples, direto, porém impactante, apesar de nada original, tanto em concepção, quanto em forma, como já fora destacado.
Por fim, trama simples e eficiente. Conteúdo de questionamento, atual e importante. Concepção artística e visual perfeitas. Montagem ascendente, que não segura imagens ou informações do espectador além do tempo necessário, mas sim o conquista. Entretenimento pensante, sem deixar de entreter (dã). Filme mais caro do ano (quiçá da história) e, apesar de estar em cartaz a pouco mais de três semanas, já detém o posto de segundo lugar dentre as maiores bilheterias da história do cinema (advinha de quem é a primeira posição). Prováveis indicações à prêmios à vista (o Globo de Ouro já fez a sua parte) e uma seqüência praticamente certa. entre altos e baixos, tropeços e sucessos, o cinema popular caminha, apesar dos percalços e crises criativas, rumo a um novo caminho e, felizmente ou não, quer se concorde ou não, Avatar ajudou a mostrar esta direção de futuro e já deu o primeiro passo. Que venha a seqüência, pois Mr. Cameron com certeza terá por objetivo quebrar mais um paradigma. O cinema e, por que não, o mundo do entretenimento, agradece. O mundo apresentado em Avatar é real!
Avatar. De James Cameron. Com Sam Worthington, Zöe Saldana, Sigourney Weaver, Stephen Lang, Michelle Rodriguez e Giovanni Ribisi. Twentieth Century Fox. 166 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=-8l_Z11sxyY
- Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino.

Entretanto, dentre esta vastidão de títulos, alguns se sobressaem pelo seu foco diferenciado, pela estilização do episódio sem que este perca sua principal conotação: a tragédia. E, entre os que obtiveram êxito estão títulos como "O Grande Ditador", de Chaplin e "A Vida é Bela", de Benigni, até que chegamos ao lançamento deste que já é considerado por boa parte dos críticos e do público (é a maior bilheteria do cineasta até hoje) como um dos melhores trabalhos do diretor Quentin Tarantino (de Pulp Fiction - Tempos de Violênica e Kill Bill): o inusitado e divertido Bastardos Inglórios.
Se você deseja conhecer um pouco sobre a trama do longa, basta acessar este link para visualizar uma crítica do filme, pois o enfoque deste texto é apenas tentar explicitar em poucas linhas o por que das qualidades desse trabalho ímpar de Tarantino. À começar pela inventividade absurda da trama, que apresenta uma trupe de soldados norte-americanos judeus que, sob a batuta do tendente vivido pelo extremamente à vontade Brad Pitt (de O Curioso Caso de Benjamin Button), partem Europa à fora escalpelando alemães nazistas, marcando-os com faca uma suástica no centro da testa e/ou os matando à porradas de bastão de beiseball (é vero). O que dizer também da construção do personagem Hans Landa, coronel alemão excepcionalmente concebido pelo até então deconhecido Christopher Waltz (cotadíssimo para levar o prêmio de melhor ator-coadjuvante no Globo de Ouro e, quiçá do Oscar), que mostra um nazista incrivelmente inteligente, sagaz e erudito, um poliglota que, ao contrário do estereótipo de rigidez bruta, grossura e, de certa forma, estupidez e maldade que a maioria dos personagens nazistas recebem no cinema (em destaque o norte-americano, óbvio), apresenta-se como um homem bastante culto e extremamente simpático, quebrando assim o paradigma da maldade desnatural e "inumana" atribuída aos soldados do regime nazista em geral, apesar de com toda a certeza carregar consigo a indubitável missão de conquista e extermínio tão conhecida por todos.
Estes foram apenas dois dos váeios aspectos que podem ser apontados como diferenciais positivos neste exímio trabalho de Tarantino que, apesar de mexer com um tema extremamente tenso e delicado (e conhecido também), o faz de maneira particular e, por que não dizer, autoral, já que este sente-se totalmente a vontade para alterar diversos fatos e situações "históricas" para que sua estória ganhe em dinamicidade e clímax. Tecnicamente perfeito e com diversas passagens que buscam homenagear o próprio cinema - aspceto este recorrente na obra do autor, Bastardos Inglórios já pode ser considerado um dos melhores trabalhos de Tarantino, podendo assim completar a trindade junto à "Cães de Aluguel" e "Pulp Fiction - Tempos de Violência" e passando por cima dos bons, porém não mais que isso "Kill Bill". Alugue já...
Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds). De Quentin Tarantino. Com Brad Pitt, Christopher Waltz, Eli Roth, Mélanie Laurent, Michael Fassbender, Diane Krueger, Daniel Brhül e Til Schweiger. Universal Pictures. 153 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=gt7m1LDlOl8
- Intrigas de Estado, de Kevin MacDonald.

Confesso que desde títulos como "O Informante", de 1999 e "Leões e Cordeiros", de 2005, que não assistia a um thriller político tão interessante e bem-elaborado quanto este Intrigas de Estado. Bastante convincente e possuidor de uma edição que mantém o espectador sempre atento e curioso, além de tentar ao máximo dar espaço aos diversos (e importantes) personagens que recheiam a trama, que apresenta pontas de outros grandes talentos do cinema em pequenas pontas, como Jeff Daniels, Jason Bateman e Robin Wright.
Apesar da qualidade acima da média, devido à sua produção ter sido um tanto quanto conturbada (o elenco mudara diversas vezes durante a pré-produção do longa) e sua estréia ter sido no começo do ano de 2009, Intrigas de Estado provavelmente não será lembrado pela Academia para alguma indicação ao Oscar (vide o conhecido pré-Oscar, o Globo de Ouro, não tê-lo indicado em nenhuma categoria). No entanto, apesar de provavelmente não vir a ser um filme altamente premiado, Intrigas de Estado é um filme que merece ser visto e redescoberto em DVD, visto que, para completar, o longa não teve um desempenho espetacular nos cinemas mundo à fora. Mais informações sobre o filme estão disponíveis neste link.
Intrigas de Estado (State of Play). De Kevin MacDonald. Com Russel Crowe, Ben Affleck, Rachel McAdams, Helen Mirren, Robin Wright, Viola Davis e Jeff Daniels. Universal Pictures. 127 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=UJ2OpcUwdjc
- Presságio, de Alex Proyas.

Contudo, parte da crítica torceu o nariz para esta pequena grande obra do egípcio Alex Proyas, diretor de "Eu, Robô" e "O Corvo", classificando-o como um filme B em pleno espaço hollywoodiano. Quanto ao público, o filme não fez feio e, tanto nos Estados Unidos, quanto no Brasil, deteve um razoável número de espectadores. Quanto ao clima de filme B, pode até ser verdade, no entanto acredito que foi feito de maneira proposital, ao contrário de alguns pretenciosos blockbusters, que são vendidos como obras gigantescas e monumentais e são tão ou mais B do que qualquer sci-fi dos anos 50 (vide o recente remake de "O Dia em Que a Terra Parou", estrelado por Keanu Reeves, que não é o pior dos filmes, mas não deixa de carregar uma aura B), Presságio é um interessante registro estético e possuidor de uma narrativa bem construída e interessante, dando uma surra em diversos filmes que enfocam o tom de mistério em seu enredo, independentemente do gênero, como títulos como "Fim dos Tempos" (de M. Night Shyamalan) e "O Código Da Vinci" (de Ron Howard).
Ficação-científica? Suspense? Drama? Presságio não detém um gênero específico. Apresenta estes e outros mais, sem perder o foco principal: apresentar uma trama ficcional repleta de referências científicas e religiosas de maneira crível. Quer ver um ponto de vista crítico? Aqui está.
Presságio (Knowing). De Alex Proyas. Com Nicolas Cage, Rose Byrne, Chandler Canterburry e Lara Robinson. Summit Entertainment / Paris Filmes. 122 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=KgRPpoqFR4w
- Se Beber, Não Case, de Todd Phillips.

Apresentando um elenco um tanto quanto desconhecido do grande público, contudo extremamente afiado e entrosado e um roteiro bastante simples, porém absurdamente criativo, sem apelos desnecessários, que aposta no mistério para conquistar o espectador (isto mesmo, o que move a trama é a curiosidade sobre o mistério apresentado, fato quase que inédito numa comédia), além do fácil envolvimento do espectador para com o trio de protagonistas, que demonstram bastante carisma e conseguem passar emoção o bastante (ou seja, não são só as gags e piadas que envolvem o espectador), fazendo com que quem assista ao filme passe realmente a se importar com os personagens. Mais informações podem ser conferidas aqui.
Grande revelação do ano que, além de ter sido recebido com êxito por público e crítica, Se Beber, Não Case ainda angariou uma indicação ao Globo de Ouro, além de uma quase certa seqüência já estar em vias de entrar no forno. Em resumo, hilário como jamais visto antes. Talvez não seja para tanto, mas não deixa de ser hilário.
Se Beber, Não Case (Hangover). De Todd Phillips. Com Bradley Cooper, Ed Helms, Zach Galifianakis, Justin Bartha e Heather Graham. Warner Bros. 100 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=C3N9TjpvNsY
- Watchmen - O Filme, de Zack Snyder.

No entanto, o fato é que Watchmen é uma excelente adaptação cinematográfica, que condensa as 12 edições da Graphic Novel em pouco mais de 140 minutos, dando ênfase à caracterização dos personagens e à ambientação que evoca os anos tensos do período da Guerra Fria, num contexto ficcional onde existem super-heróis no mundo real (a crítica completa do filme pode ser lida aqui). Contudo, apesar do esmero da produção e da fidelidade com relação à obra original, o diretor Zack Snyder (Madrugada dos Mortos) abusa um pouco da estilização nas seqüências de ação do filme (ato este já executado no seu longa anterior, o bem mais sucedido financeiramente 300), fator este que tende a desfocar um pouco a atenção do espectador, que pode não atentar para o conteúdo da obra, tamanha a plasticidade visual de video-game que Watchmen carrega em determinados momentos; talvez uma filmagem mais conservadora (diga-se clássica) casaria melhor com o apelo da obra.
Por fim, excetuando este detalhe técnico, Watchmen é uma grande obra de entretenimento, que detém um conteúdo no âmbito de questionamento moral, político e social exemplar, além de um enredo e de um visual de encher os olhos do espectador. Entretanto, grande parte do público não compreendeu sua proposta e talvez a montagem um tanto quanto lenta (com a devida exceção às seqüências de ação) tenha sido um dos fatores prejudiciais ao sucesso de público do filme. Watchmen é sim um grande filme, uma ótima adaptação e merece ser redescoberto. Candidatíssimo a obra cult...
Watchmen - O Filme (Watchmen). De Zack Snyder. Com Jake Earle Haley, Patrick Wilson, Jeffrey Dean Morgan, Malin Akerman, Billy Crudup, Matthew Goode e Carla Cugino. Warner Bros. / Paramount. 163 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=nwrSgao6I4w
Outros destaques:
- Frost/Nixon, de Ron Howard.

Frost/Nixon. De Ron Howard. Com Michael Sheen, Frank Langella, Matthew McFayden e Oliver Platt. Universal Pictures. 122 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=Qh5ZvdBd7FU
- Gran Torino, de Clint Eastwood.

Gran Torino. De Clint Eastwood. Com Clint Eastwood, Christopher Carley, Bee Vang, Ahney Her e Brian Haley. Warner Bros. 117 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=Y_0088KD1_U
- O Lutador, de Darren Aronofsky.

O Lutador (The Wrestler). De Darren Arronofsky. Com Mickey Rourke, Marisa Tomei e Evan Rachel Wood. Paris Filmes. 111 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=PvCPRebf_Uk
- Star Trek, de J. J. Abrams.

Star Trek. De J.J. Abrams. Com Chris Pine, Zachary Quinto, Zöe Saldana, Karl Urban, Eric Bana, Simon Pegg, John Cho, Anton Yelchin, Wynona Ryder, Bruce Greenwood e Leonard Nimoy. Paramount Pictures. 126 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=8SFHZnT--qo
- Up - Altas Aventuras, de Pete Docter.

Up - Altas Aventuras (Up). De Pete Docter. Vozes (original): Edward Asner, Christopher Plummer, John Ratzenberger e Jordan Nagai. Disney / Pixar. 96 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=ydmQXtfnnFY
Em breve, a relação com alguns dos piores lançamentos de 2009 (é texto que não acaba mais, ai minha santa aquerupita...!!!).
Nenhum comentário:
Postar um comentário