Versão cinematográfica de uma premiada mini-série inglesa,
Intrigas de Estado é um thriller dramático de primeira qualidade, estrelado por astros (astros atores/atrizes, não confundir com os astros "apenas pelos rostos" tão em voga no cinema atual) do naipe de
Russel Crowe e
Helen Mirren (ambos já vencedores do
Oscar),
Ben Affleck e
Rachel McAdams e dirigido com primor e classe pelo indicado ao
Oscar Kevin MacDonald (pelo documentário
One Day in September, em 2000), que enfoca o cotidiano de um jornal, em especial a relação entre um jornalista e um senador, velhos amigos desde os tempos de infância, que se vêem entrelaçados numa trama de conspiração complexa, devido ao suposto envolvimento deste último com sua secretária, que acabara de ser assassinada. A premissa do longa reúne dilemas éticos e morais, complôs políticos, lobbies por parte de grandes corporações, além de temas mais humanos, como os limites entre amizade e responsabilidade profissional.
Confesso que desde títulos como "
O Informante", de 1999 e "
Leões e Cordeiros", de 2005, que não assistia a um thriller político tão interessante e bem-elaborado quanto este
Intrigas de Estado. Bastante convincente e possuidor de uma edição que mantém o espectador sempre atento e curioso, além de tentar ao máximo dar espaço aos diversos (e importantes) personagens que recheiam a trama, que apresenta pontas de outros grandes talentos do cinema em pequenas pontas, como
Jeff Daniels,
Jason Bateman e
Robin Wright.
Apesar da qualidade acima da média, devido à sua produção ter sido um tanto quanto conturbada (o elenco mudara diversas vezes durante a pré-produção do longa) e sua estréia ter sido no começo do ano de 2009,
Intrigas de Estado provavelmente não será lembrado pela Academia para alguma indicação ao
Oscar (vide o conhecido pré-Oscar, o
Globo de Ouro, não tê-lo indicado em nenhuma categoria). No entanto, apesar de provavelmente não vir a ser um filme altamente premiado,
Intrigas de Estado é um filme que merece ser visto e redescoberto em DVD, visto que, para completar, o longa não teve um desempenho espetacular nos cinemas mundo à fora. Mais informações sobre o filme estão disponíveis neste
link.
Intrigas de Estado (State of Play). De Kevin MacDonald. Com Russel Crowe, Ben Affleck, Rachel McAdams, Helen Mirren, Robin Wright, Viola Davis e Jeff Daniels. Universal Pictures. 127 minutos.Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=UJ2OpcUwdjc
- Presságio, de Alex Proyas.
Filme catástrofe que enfoca mais uma vez o possível fim do mundo e, conseqüentemente, a extinção da humanidade,
Presságio diferencia-se dos outros longas por, a exemplo do excepcional "
O Nevoeiro", de
Frank Darabont (baseado em obra do popular
Stephen King), apostar na crueza do que seria o fim dos tempos, apresentando uma narrativa complexa, porém dinâmica, que mistura leituras e aspectos científicos à questões dogmáticas de âmbito exotérico e religioso, formando assim um painel bastante interessante de teorias sobre aleatoriedade e determinismo, sem deixar de focar nas seqüências de ação (a cena da queda de um avião é no mínimo espetacular), no drama dos personagens principais (onde até
Nicolas Cage não compromete, apesar de insistir tanto no corte de cabelo estranho, quanto na interpretação à lá tonto desligado que carrega dos últimos anos) e, principalmente no clima de mistério, fazendo deste
Presságio um dos melhores títulos do gênero sci-fi (com toques de thriller) dos últimos anos.
Contudo, parte da crítica torceu o nariz para esta pequena grande obra do egípcio
Alex Proyas, diretor de "
Eu, Robô" e "
O Corvo", classificando-o como um filme B em pleno espaço hollywoodiano. Quanto ao público, o filme não fez feio e, tanto nos Estados Unidos, quanto no Brasil, deteve um razoável número de espectadores. Quanto ao clima de filme B, pode até ser verdade, no entanto acredito que foi feito de maneira proposital, ao contrário de alguns pretenciosos blockbusters, que são vendidos como obras gigantescas e monumentais e são tão ou mais B do que qualquer sci-fi dos anos 50 (vide o recente remake de "
O Dia em Que a Terra Parou", estrelado por
Keanu Reeves, que não é o pior dos filmes, mas não deixa de carregar uma aura B), Presságio é um interessante registro estético e possuidor de uma narrativa bem construída e interessante, dando uma surra em diversos filmes que enfocam o tom de mistério em seu enredo, independentemente do gênero, como títulos como "
Fim dos Tempos" (de
M. Night Shyamalan) e "
O Código Da Vinci" (de
Ron Howard).
Ficação-científica? Suspense? Drama?
Presságio não detém um gênero específico. Apresenta estes e outros mais, sem perder o foco principal: apresentar uma trama ficcional repleta de referências científicas e religiosas de maneira crível. Quer ver um ponto de vista crítico? Aqui
está.
Presságio (Knowing). De Alex Proyas. Com Nicolas Cage, Rose Byrne, Chandler Canterburry e Lara Robinson. Summit Entertainment / Paris Filmes. 122 minutos. Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=KgRPpoqFR4w
- Se Beber, Não Case, de
Todd Phillips.
O gênero comédia nunca foi um dos meus preferidos. Contudo, desde a "invasão" dos filmes escritos, dirigidos e/ou produzidos por
Judd Apatow e
Evan Goldberg na minha vida, passei a acompanhar mais atentamente alguns lançamentos (e clássicos, por que não) do gênero. Porém, apesar do ligeiro entusiasmo com a "descoberta" da comédia como uma opção válida de entretenimento de qualidade, com certeza nunca havia apontado um título do gênero entre os melhores filmes do ano, por exemplo. No entanto, isso mudou após conferir
Se Beber, Não Case, quarto trabalho do até então pouco conhecido realizador
Todd Phillips (de
Dias Incríveis), sucesso absurdo de bilheteria nos cinemas do mundo inteiro e, com toda a certeza, o filme mais engraçado do ano.
Apresentando um elenco um tanto quanto desconhecido do grande público, contudo extremamente afiado e entrosado e um roteiro bastante simples, porém absurdamente criativo, sem apelos desnecessários, que aposta no mistério para conquistar o espectador (isto mesmo, o que move a trama é a curiosidade sobre o mistério apresentado, fato quase que inédito numa comédia), além do fácil envolvimento do espectador para com o trio de protagonistas, que demonstram bastante carisma e conseguem passar emoção o bastante (ou seja, não são só as gags e piadas que envolvem o espectador), fazendo com que quem assista ao filme passe realmente a se importar com os personagens. Mais informações podem ser conferidas
aqui.
Grande revelação do ano que, além de ter sido recebido com êxito por público e crítica,
Se Beber, Não Case ainda angariou uma indicação ao
Globo de Ouro, além de uma quase certa seqüência já estar em vias de entrar no forno. Em resumo, hilário como jamais visto antes. Talvez não seja para tanto, mas não deixa de ser hilário.
Se Beber, Não Case (Hangover). De Todd Phillips. Com Bradley Cooper, Ed Helms, Zach Galifianakis, Justin Bartha e Heather Graham. Warner Bros. 100 minutos.Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=C3N9TjpvNsY
- Watchmen - O Filme, de
Zack Snyder.
Adaptação da Graphic Novel criada por
Alan Moore (também autor de "
Do Inferno", "
A Liga Extraordinária", "
V de Vingança" e do personagem
Constantine, da publicação "
Hellblazer" - todos já convertidos em película) e
David Lloyd,
Watchmen foi considerada uma das 100 maiores obras literárias de ficção do século XX, segundo a revista
Times. Contudo, sua versão live-action não obteve, pelo menos no que tange ao apelo do público, tamanho sucesso, visto que em termos de arrecadação o filme ficou bastante aquém do esperado, faturando nos Estados Unidos pouco mais de $107,000,00 (mundialmente foram outros $183,000,00), resultado abaixo dos $138,000,00 gastos apenas na produção do mesmo. Entretano, com relação à crítica,
Watchmen dividiu opiniões, sendo considerado tanto sublime quanto pretencioso por alguns analistas.
No entanto, o fato é que
Watchmen é uma excelente adaptação cinematográfica, que condensa as 12 edições da Graphic Novel em pouco mais de 140 minutos, dando ênfase à caracterização dos personagens e à ambientação que evoca os anos tensos do período da Guerra Fria, num contexto ficcional onde existem super-heróis no mundo real (a crítica completa do filme pode ser lida
aqui). Contudo, apesar do esmero da produção e da fidelidade com relação à obra original, o diretor
Zack Snyder (
Madrugada dos Mortos) abusa um pouco da estilização nas seqüências de ação do filme (ato este já executado no seu longa anterior, o bem mais sucedido financeiramente
300), fator este que tende a desfocar um pouco a atenção do espectador, que pode não atentar para o conteúdo da obra, tamanha a plasticidade visual de video-game que
Watchmen carrega em determinados momentos; talvez uma filmagem mais conservadora (diga-se clássica) casaria melhor com o apelo da obra.
Por fim, excetuando este detalhe técnico,
Watchmen é uma grande obra de entretenimento, que detém um conteúdo no âmbito de questionamento moral, político e social exemplar, além de um enredo e de um visual de encher os olhos do espectador. Entretanto, grande parte do público não compreendeu sua proposta e talvez a montagem um tanto quanto lenta (com a devida exceção às seqüências de ação) tenha sido um dos fatores prejudiciais ao sucesso de público do filme.
Watchmen é sim um grande filme, uma ótima adaptação e merece ser redescoberto. Candidatíssimo a obra cult...
Watchmen - O Filme (Watchmen). De Zack Snyder. Com Jake Earle Haley, Patrick Wilson, Jeffrey Dean Morgan, Malin Akerman, Billy Crudup, Matthew Goode e Carla Cugino. Warner Bros. / Paramount. 163 minutos.Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=nwrSgao6I4wOutros destaques:
-
Frost/Nixon, de
Ron Howard.
Um dos cinco indicados a melhor filme no Oscar 2009,
Frost/Nixon nada mais é do que um brilhante retrato de um debate entre feras da oração. Baseado em uma peça teatral, o longa de
Ron Howard (
Anjos e Demônios) apresenta um festival de interpretações, com minimalismos e trejeitos, sem que se entre no dramalhão barato.
Michael Sheen (
Anjos da Noite - A Evolução) e
Frank Langella (
Superman - O Retorno) vivem, respectivamente, os dois personagens título, um apresentador de programas de entretenimento e um dos mais conhecidos ex-presidentes norte-americanos, assombrado pelo escândalo Watergate. O debate em questão é o cerne do filme, que ganha muito mais do que um retrato fiel de um período, mas um exercício de linguagem e manipulação riquíssimos por parte dos intérpretes de Frost e Nixon.
Frost/Nixon. De Ron Howard. Com Michael Sheen, Frank Langella, Matthew McFayden e Oliver Platt. Universal Pictures. 122 minutos.Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=Qh5ZvdBd7FU- Gran Torino, de
Clint Eastwood.
E não é que o velho Clint conseguiu mais uma vez? E, como no ano de 2007, em dose dupla. Além do ótimo "
A Troca", estrelado por
Angelina Jolie (
Sr. e Sra. Smith), o veterano diretor também entregou este excelente drama intitulado
Gran Torino. Voltando as telas como ator (ele não participava de um filme desde
Menina de Ouro, de 2004), Eastwood entrega tanto uma trama de redenção (parece a pauta da vez) impecável, como uma interpretação bastante inspirada, de um veterano da guerra da Coréia que aprende a conviver com os novos vizinhos asiáticos, apesar de seu aparente preconceito e a maneira rude de se comportar. Um pequeno grande filme.
Gran Torino. De Clint Eastwood. Com Clint Eastwood, Christopher Carley, Bee Vang, Ahney Her e Brian Haley. Warner Bros. 117 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=Y_0088KD1_U-
O Lutador, de
Darren Aronofsky.
Fantástico filme sobre superação, força de vontade e segundas chances, além de ser um painel bastante sincero e verdadeiro sobre a pequenez do homem perante a vida. Um verdadeiro ensaio filosófico, um filme humano que acompanha a decadência profissional de um lutador de luta livre, vivido com absurdo primor por
Mickey Rourke (
Sin City) e sua transcendência e redescoberta como homem, pai, amante etc.
Darren Aronofsky (do também emocionante
Fonte da Vida) cria um mágico painel num dos filmes mais emotivos do ano de 2008, que rendeu ao veterano Rourke o
Globo de Ouro de melhor ator. O longa deteve diversas indicações à prêmios, incluindo aí o já citado
Globo de Ouro, o
Oscar e recebeu o prêmio de melhor filme do
Festival de Veneza.
O Lutador (The Wrestler). De Darren Arronofsky. Com Mickey Rourke, Marisa Tomei e Evan Rachel Wood. Paris Filmes. 111 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=PvCPRebf_Uk
- Star Trek, de
J. J. Abrams.
Nunca fui um trekker (mesmo sem conhecer o universo da série, a odiava quando criança), porém após assistir ao reboot comandado pelo atual midas da televisão norte-americana,
J.J. Abrams (diretor de
Missão Impossível III e co-criador de séries como
Lost,
Alias e
Fringe) confesso que meu interesso pela série mudou. A aventura de ficção-científica
Star Trek é brilhante. Como a maioria das criações de Abrams, tenta abraçar diversos gêneros de maneira criativa e sem soar piegas. Nesta nova versão de Trek temos aventura, ação, romance, comédia e, para abrilhantar ainda mais, efeitos visuais de tirar o fôlego (que, se não fosse por
Avatar, apostaria em
Star Trek para o prêmio de efeitos da Academia). A trama não é um mar de inspiração, mas não compromete e, como destaque, cabe colocar todo o elenco, que demonstra conhecer o universo com a palma da mão e entrega uma ficção bastante convincente, fazendo-me esquecer daquela trilogia "rival" que aportou nos cinemas no final da década de 90 e foi finalizada no meio desta. Que venham as seqüencias, pois Abrams conseguiu angariar mais um trekker!
Star Trek. De J.J. Abrams. Com Chris Pine, Zachary Quinto, Zöe Saldana, Karl Urban, Eric Bana, Simon Pegg, John Cho, Anton Yelchin, Wynona Ryder, Bruce Greenwood e Leonard Nimoy. Paramount Pictures. 126 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=8SFHZnT--qo
- Up - Altas Aventuras, de
Pete Docter.
Como superar
"Wall -E", uma das melhores animações (e filmes) da história? Bem, a
Pixar pode não ter superado, mas com certeza se equiparou novamente com esta aventura de um velhinho que não quis deixar um antigo sonho morrer e, ao se ver viúvo e, convenhamos, prestes a partir dessa para outra, decide viajar até um paraíso exótico, levando consigo sua casa presa à milhares de balões. Mas, o caminho do sr. Fredericksen não será nada fácil, pois além de ter que conviver com o garoto Russel (que acaba na empreitada meio que sem querer), ele deve enfrentar diversos percalços (tanto físicos, quanto psicológicos) até se sentir realizado.
Up - Altas Aventuras é mais um daqueles filmes que te apresentam idéias, divertem, mas te fazem pensar e, principalmente, contemplar, em especial a vastidão e, principalmente, a eferemidade dos momentos e da vida como um todo. O agora e o amanhã, no final eles não parecem estar tão distantes assim.
Up - Altas Aventuras (Up). De Pete Docter. Vozes (original): Edward Asner, Christopher Plummer, John Ratzenberger e Jordan Nagai. Disney / Pixar. 96 minutos.Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=ydmQXtfnnFYEm breve, a relação com alguns dos piores lançamentos de 2009 (é texto que não acaba mais, ai minha santa aquerupita...!!!).